Poluição nas escolas baixa nota no Enem

Pesquisa da Fundação Getulio Vargas alerta que má qualidade do ar nas classes de aula do Brasil prejudica a cognição dos alunos

O brasileiro das grandes cidades respira o ar que tem para hoje, conformado, e sem muitos questionamentos, mesmo sabendo a importância da qualidade dele para a saúde. A poluição mata cerca de sete milhões de pessoas em todo o mundo a cada ano. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 9 em cada 10 pessoas respiram altos níveis de poluentes. Mesmo assim a fumaça dos escapamentos, a poluição dos rios e dos mares passaram simplesmente a fazer parte do cotidiano. Não se imaginava, no entanto, que houvesse poluição dentro da sala de aula. Uma pesquisa coordenada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que as escolas merecem mais atenção das autoridades e dos pais, pois a falta de qualidade no ar afeta negativamente também o rendimento dos alunos.

De 2019 a 2021, a FGV monitorou o ar de 10.549 escolas públicas e particulares e o desempenho dos alunos dessas instituições no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A poluição registrada é quase o dobro do recomendado pela OMS. “Constatamos uma média de 9,5 microgramas por metro cúbico ao redor das escolas e boa parte dessa poluição passou para dentro dos prédios de ensino”, diz o coordenador da pesquisa Weeberb Réquia, professor da Faculdade de Políticas Públicas e Governo da FGV, de Brasília. De acordo com os especialistas, os danos causados à saúde têm a ver com o tempo da exposição à poluição. Como a escola é o ambiente onde crianças e jovens passam pelo menos metade do dia, a qualidade do ar que respiram torna-se ainda mais importante.

“A poluição causa estresse oxidativo, que gera neuro inflamação, e afeta a capacidade cognitiva”, explica Réquia. Os alunos monitorados pela pesquisa tiveram uma queda de 5.58 pontos, em média no Enem, a cada 10 microgramas por metro cúbico de poluentes a que foram expostos. O objetivo do estudo é orientar políticas públicas que melhore essa realidade. O monitoramento da qualidade do ar no ambiente escolar e a média das notas de seus estudantes são métricas usadas pelos pesquisadores, em quase todas as partes do mundo. Só nos EUA, há pelo menos 1.333 estudos que seguem esse caminho. “Há estudos que revelam que crianças expostas à poluição têm problemas na comunicação verbal”, diz Thiago Nogueira, professor do departamento de Saúde Ambiental, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP).

Há maneiras de melhorar a qualidade do ar na escola. Entre elas, aumento das áreas verdes no entorno do prédio e a implantação de diferentes horários de entrada e saída dos alunos, para evitar os longos congestionamentos formado pelos pais. “A vedação das janelas e a instalação de um sistema de ventilação adequado, com renovação e filtragem do ar, minimiza e até bloqueia a entrada do ar poluído”, diz Henrique Cury, presidente da Ecoquest, empresa especializada em soluções para melhorar a qualidade do ar. “Isso deveria ser tão importante quanto a qualidade da água que bebemos.” O sistema de ventilação é também um meio de impedir a propagação de doenças transmissíveis pelo ar. Vale lembrar que, em 1998, o ministro das telecomunicações Sergio Motta morreu devido a uma infecção causada por uma bactéria alojada no ar-condicionado. O fato fez nascer uma legislação sobre a qualidade do ar dentro de ambientes fechados.

Mas foi mesmo a Covid que abriu os olhos da população sobre o assunto. Tanto que em 2021, a senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) apresentou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC, de número 7), que inclui como direito fundamental o acesso à qualidade do ar, inclusive em locais fechados e de alta circulação. “A poluição atmosférica é uma violação ao direito à saúde”, diz Mara.

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