Bactéria “estranha” fica mais perigosa quando não há poluição no ar

 

Nos Estados Unidos, o número de infecções causadas pelas bactérias do gênero Legionella estão aumentando. Em busca de explicações, os cientistas da Universidade do Estado de Nova York em Albany defendem uma hipótese inusitada: a redução dos níveis de poluição, especificamente do dióxido de enxofre no ar, facilita a proliferação do patógeno.

A infecção por este grupo de bactérias “estranhas” causa a doença dos legionários ou a legionelose, um tipo grave de pneumonia. Os primeiros sintomas da infecção envolvem febre alta, falta de ar, tosse e dores musculares, o que pode dificultar o diagnóstico. No entanto, quase todos os pacientes infectados (95%) evoluem para formas mais graves e são hospitalizados. A taxa de mortalidade varia entre 10% a 25%.

Além dos EUA, infecções por bactérias desse tipo estão aumentando na Europa e no Canadá. Isso sem desconsiderar a alta porcentagem de subnotificações por erro de diagnóstico ou confusão entre os patógenos.

Onde estão as bactérias Legionella?

A bactéria pode ser encontrada, de forma natural, na água doce. Além disso, pode se proliferar em banheiras de hidromassagem, fontes, tanques de água quente, chuveiros, máquinas de gelo, umidificadores e sistemas de refrigeração, com torres de resfriamento. Cabe destacar que estas torres resfriam espaços internos ao dissipar calor na atmosfera na forma de gotículas de água e vapor.

Bactérias do gênero
Bactérias do gênero Legionella se proliferam mais quando não há dióxido de enxofre um poluente, no ar (Imagem: CDC/Barry S. Fields)

Para contrair o patógeno, é preciso o inalar na forma de aerossol (gotículas bem pequenas que viajam pelo ar). Infecções também podem ocorrer por aspiração da água que vai para o pulmão.

Efeito protetor da poluição

Publicado na revista científica Pnas Nexus, os cientistas realizaram uma série de cálculos matemáticos e estatísticos para determinar quais fatores favorecem ou impedem a sobrevivência das bactérias que causam a doença dos legionários. Assim, concluíram que a redução dos níveis de poluição por dióxido de enxofre é uma das causas do aumento de infecções nos EUA.

Para entender o raciocínio por trás da descoberta, vale dizer que as gotículas de água podem transportar a bactéria Legionella e também podem absorver o dióxido de enxofre do ar. Se isso ocorrer, o enxofre vai inativar o patógeno, impedindo a infecção do pulmão em pessoas saudáveis. É uma consequência do aumento da acidez daquele meio.

A questão é que, nos últimos anos, os níveis de enxofre, um gás poluente, estão caindo, ainda mais quando se analisa os níveis em prédios com torres de refrigeramento. Isso é uma ótima notícia, mas tem um efeito até então desconhecido.

“Nossos resultados sugerem que o declínio da poluição atmosférica por dióxido de enxofre, que traz muitos benefícios à saúde, resulta na redução da acidez dos aerossois emitidos pelas torres de resfriamento, o que pode prolongar a duração da sobrevivência da Legionella em gotículas contaminadas e contribuir para o aumento da incidência”, resumem os pesquisadores.

Como os autores explicam, a redução da poluição pelo enxofre tem muito mais benefícios para a saúde do que malefícios. Por isso, não deve ser desencorajada. Entretanto, é preciso, agora, descobrir novas formas de inativar essas gotículas de água que podem carregar a bactéria.

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