O gás inodoro que está ligado ao aumento do número de casos de câncer de pulmão
A maioria das pessoas desconhece o risco representado pelo radônio em ambientes fechados.
Embora, tradicionalmente, o câncer de pulmão seja associado ao tabagismo, entre 15% e 20% dos novos casos diagnosticados atingem pessoas que nunca fumaram, boa parte entre os 40 e 50 anos. Os médicos afirmam que o aumento do número de ocorrências está relacionado a um ilustre desconhecido para a maioria: o gás radônio (símbolo Rn e número atômico 86). Invisível, inodoro e insípido, ele é emitido a partir do chamado decaimento (degradação) radioativo do urânio e do tório, dois elementos presentes em abundância na crosta terrestre.
O problema do radônio é ficar confinado em ambientes fechados. Sua presença pode ser causada pelo solo do terreno onde o imóvel foi construído; pela água proveniente de poços rasos ou aquíferos profundos; e até através de materiais de construção, como brita, calcário, areia, terra, mármore e granito. Dos três, o solo subjacente à construção é o maior fator de risco.
O tal decaimento radioativo acontece quando isótopos instáveis têm seus núcleos rompidos em razão da instabilidade atômica. O gás formado se desloca para a superfície terrestre e, ao chegar ali, se dispersa naturalmente, não oferecendo riscos à saúde. No entanto, ao ficar confinado num imóvel, torna-se um contaminante letal. O processo de decaimento não para e gera outros elementos radioativos, como o polônio. Ao contrário do radônio, que se encontra em estado gasoso, esse elemento é sólido. As partículas, tão pequenas que não podem ser percebidas a olho nu, são inaladas e aderem aos tecidos dos pulmões.
Nos Estados Unidos, estima-se que provoque 21 mil mortes de câncer de pulmão por ano, e um em cada 15 lares tem níveis altos do gás. É bom lembrar que é comum que as casas daquele país tenham porão. A Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) recomenda vistorias regulares para detectar sua presença e há kits de testes disponíveis em diversos estados. Entretanto, pesquisa realizada pela The Ohio State University revelou que 75% dos norte-americanos não fazem qualquer checagem. “A exposição ao radônio é a principal causa de câncer de pulmão em não fumantes. Os testes são simples, assim como as medidas para corrigir o problema”, afirmou David Carbone, oncologista e professor da universidade. É preciso instalar sistemas para renovar o ar em locais fechados; manter a casa ventilada; e vedar rachaduras nos pisos e paredes.
O Brasil ainda não dispõe de dados relacionados à concentração do radônio. Em 2018, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) criou um programa com esse objetivo, com a participação de universidades e institutos de pesquisa. O nome, comprido e em inglês, pode ser traduzido como Programa de Risco do Radônio para o Brasil: mapa de risco de exposição, plano de ação, prevenção e ações de mitigação (Project Radon Risk Programme for Brazil: Exposure Risk Map, Action Plan, Prevention and Mitigation Actions).
A assessoria de imprensa do Instituto de Radioproteção e Dosimetria, que integra o consórcio desde 2021, enviou por e-mail resposta sobre o estágio do programa: “o projeto está em andamento, nem todas as amostras foram coletadas e analisadas, e qualquer interpretação ainda é preliminar. Deve-se ter em mente que o Brasil é um país de dimensão continental e um mapeamento deste tipo é um desafio imenso. Com relação às áreas mais expostas, a exposição ambiental (ambientes abertos) não é preocupante do ponto de vista da proteção radiológica; em ambientes fechados (por exemplo, uma residência), não se esperam níveis de exposição altos, devido às características das construções e dos hábitos brasileiros. Cabe ressaltar que hoje o Brasil, através da sua autoridade regulatória nuclear (CNEN), em sua norma básica de Proteção Radiológica, estabelece o nível de referência de 300Bq/m3 para radônio em ambientes fechados. Embora os dados sejam preliminares, as medições realizadas pelo IRD até o momento mostram que as concentrações de atividade se situam abaixo deste nível”. No banco de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), não consta que o país tenha um plano nacional.
Fonte